quarta-feira, 24 de julho de 2013

Ouro de Praga


Passeio pelas ruas

Em busca de ti

Olho para o alto das cúpulas

Douradas, em centenas,

Apontam-me o céu.

Sol, vejo-te refletido no ouro,

Vastidão do firmamento.

Troco passos, os olhos

Que atravessam as pontes

São os teus.

Em milhares se multiplicam,

Olham-me, bisbilhotam...

Silenciosamente...

Busco-te em um, em apenas um par

Mas estás em tantos, estás em todos...

Olhos, corpos que contam histórias de guerras,

Guerreiros, conquistas, glórias...

Tempo áureo... nosso tempo!

E naquele passado perscruto tua alma,

aprisionada nos porões do castelo!

O rio, incessante, passa por debaixo das pontes,

apenas o rio a limpar,

purificar as dores e dissabores.

Água negra de sangue, de sonhos...

As cores vivas se misturam,

Deslumbrada pelos raios de sol

Olho para cima, um falcão paira no ar

Em forma de vaga.

Mais uma vez, no alto te procuro,

Olhar de ouro, para me libertar.

Canção de Madeira


Do alto da imensa montanha, abraçando o mar

Te vejo debaixo do ensolarado céu,

Eu, homem sem sonhos...

O mar bravo bate nas encostas e lava as pedras

Brilhantes como vagas.

Pelo mar afiadas, apontam reluzentes como espadas

(cortam a luz do sol)

Areias brancas e vermelhas colorem as conchas deitadas ao mar

sobre as pedras

Corais se agarram aos teus pés castanhos

A claridade ilumina teu rosto, doura tua tez

O vento de Funchal agita teus cabelos negros

Daqui sinto teu perfume

O mar segue teus passos

As pedras enfeitam teus pés

Os corais, beijam...

Lá do Areeiro te contemplo

Na quebrada do oceano,

Por entre as brumas do céu.

Tocando a urze, em meio a alecrins e violetas,

Furtivamente vejo os malmequeres que se precipitam em ti,

Estrela do oceano, bruma do meu coração.

Outono


Abro a janela, inspiro o ar

Gélido da madrugada.

Mais uma vez o frio endurece

Meus ossos,

Faz tinir os dentes,

Petrifica o coração.

Luzes difusas na cidade

Mostram o vermelho do céu.

Folhas caídas no chão

Anunciam com força de um

Presságio o que está para vir.

Vir de onde? Para onde?

Folhas caídas a correr

Pelo chão, delineando

Moinhos de vento.

Poeira deitada, como corpos

Exaustos ao chão

Sorrisos desistidos

Bocas dadas aos beijos esquecidos.

Tempo a preparar para o

Esquecimento final.

Esquecimento do cálido inverno

Da Alma

Folhas a deitarem na relva,

Onde outrora deitavam-se

Os corpos em sonho,

nas arejadas noites de verão.

(25.03.2007)

Baile


Ouvi a música.

Mirei os que bailavam na noite

Um arrepio tomou as minhas vértebras

Um frio, as minhas mãos.

Uma lembrança qualquer

Preencheu o meu inconsciente.

Abraçados como que pela

Última vez, bailavam

Como um só, beijando-se

Desesperadamente.

Ou vi a música...

Miragem em Navegantes...

Nossos corpos mudos, sussurrantes
A se olharem, desejosos
De um re-encontro.
Bocas travadas de fel
Tentam re-viver os ternos
Beijos doces, perdidos
Em alguma lenda,
Antiga talvez.
Olhos a se olharem
Como se nunca tivessem se visto,
Como se fosse a última vez.
Destino anunciado,
Sentido com a brisa fria
E trepida que agita os cabelos
E enrijece as espáduas,
Empalidecendo o rubro sorriso passado/outrora.
Olhos a se procurarem,
Como a buscar uma resposta no vazio,
infinito de um suspiro força de uma paixão,
que fora, que seria, que talvez...