quarta-feira, 4 de março de 2009

À MARGEM DO TEJO

"Porque quem ama não sabe o que ama nem o que é amar(...)" Fernando Pessoa

Nunca vi o Tejo, nem sei se o verei,
Tejo de águas profundas onde dormem almas
Apaixonadas, amortalhadas, almas de poetas
Que nunca poetizaram.
Nunca vi o Tejo, mas sim os teus olhos
Teus olhos, negros como suas águas à noite,
Mergulhados na escuridão do abismo lusitano
A separar nossos espíritos, meus desejos
Nunca vi o Tejo, mas em sua profundeza
Está a minha dor e em suas margens
Meus versos são desfeitos ao vento.
O Tejo abriga a minha alma amortalhada,
Alma de mais uma amante apaixonada
Amante de incerteza e amada de ninguém.
O Tejo, nunca o vi, os teus olhos sim, o vêem agora,
E na névoa que paira à margem, desenhas o rosto
De uma rapariga qualquer, de inocência desejada
E coração virgem...
Nunca vi o Tejo, mas à sua margem choro
a dor de não ser a tua rapariga desejada,
de não ter os teus olhos negros
negros profundos do Tejo.

Michelle Vasconcelos
28/01/2009

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

TUA FALTA

(Ao meu maior Amor)

Hoje apenas sinto algo inerte e frio a pulsar em minhas veias.
Coração de pedra, desenhado pelo tempo e pelas fortes tempestades.
Teu sangue audacioso e forte se perdeu neste meu corpo convalescido.
Corpo e coração que sofrem a tua ausência, um querer sem poder querer,
Insanidade de um coração vítima do acaso.
Queria poder ver-te pela última vez, talvez
E que a última assim não fosse, e que se multiplicasse
E trouxesse a luz novamente aos meus dias.
Só tu poderias expulsar os fantasmas que hoje, na escuridão da noite,
Vêm habitar o meu sono...
E é como se não tivesse vivido, apenas morrido.
Sinto em minhas veias o veneno do arrependimento.
O eterno me assusta mais que o efêmero.
E volto a sentir a tua ausência, mais uma vez.
Por que não me disseste que seria assim?
Por que não vens durante à noite
E me acalentas pela boca de um anjo?
Diz o que preciso escutar!
Acalenta o meu coração, moribundo, que não desiste de te relembrar...

Michelle Vasconcelos
31.01.09

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

(

"Conheci a Beleza que não morre. E fiquei triste." (Antero de Quental)

A Ti
Amei-te no primeiro instante
Alguns podem afirmar a impossibilidade de tal fato
Mas só quem o vivencia, o sabe.
Achei que te conhecera, talvez
Teus olhos a procurarem-me
Teus signos a decifrarem-me
E meus véus... a me ocultarem
Não queria mostrar-me, talvez
Senti-me envolvida por tua voz aveludada,
cuidadosa, sorrateira, tal bichano noturno
Teu andar cadenciado,
Expondo total calmaria marítmo-terrestre
Como se os deuses alí estivessem,
Banqueteando-se da nossa presença.
Seduzida fui por teu sorriso velado,
Qual criança diante de um padre,
A transparecer toda a leveza da existência suprema
Responsável por nós, mortais aqui debaixo
-Nós! tu não!
Tu pareces vir de algum Olimpo qualquer,
Habitado por Dionisos e Apolos e um Zeus encantador
Como a ternura e compreensão do teu olhar.
És assim, o amor de um primeiro instante, o agraciar
das penas dos pássaros na primavera
E o deitar das garças no outono
O velar do puro amor, utopia das miragens apaixonadas.

Michelle Vasconcelos
Natal, 15.05.2007
22:00 h
(A um Alguém, que se tornara uma miragem fugidia do Amor)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Revolver-nos

Remexo-me pelo vazio da escuridão a buscar tuas lembranças.
Lembranças de um sorriso perdido no passado, de um abraço dado,
esquecido na intersecção.
Vivo apenas nas faíscas da agonizante memória de um moribundo.
Busco um beijo, talvez, um beijo que talvez tenha sido dado, ou negado.
Vem à mente o desejo calado, mudo diante da barreira que se erguera entre nossos anelos...
Busco, a visão talvez, a visão do que não fora, de um sonho, de uma fumaça
que apenas pairou no ar... apenas uma fumaça.
As cinzas levadas pelo vento, apenas cinzas cinzentas de um vermelho qualquer.
Apenas na lembrança busco-te, apenas lá, no meu suave devaneio,
ilusão vital, memória desleal
A minha de ti.
E remexo-me tentando revolver-te.

Michelle Vasconcelos.
28.01.09