sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ELEGIA - "Do sonho que Bela não acordou" (interlocução com poema do espólio de F.Pessoa)

Dorme, dorme, linda princesa
Enclausurada em seu castelo de areia
tens a paz da pantera a caçar pela noite.
Enjaulada no mundo de versos
passeia pela noite afora
em busca de amor na floresta.
Dorme, dorme, irriquita pantera,
que mal pode fazer-lhe
os sons da Charneca e o frio
da noite de luar?
Dorme, dorme, minha poeta
para que de manhã
a sua alma sofrida
a dor não venha mais procurar.

A Florbela Espanca por Michelle Vasconcelos O. do Nascimento.(04.09.2008)

"A mémória de Florbela Espanca"

Dorme, dorme, alma sonhadora,
Irmã gémea da minha!
Tua alma, assim como a minha,
Rasgando as núvens pairava
Por cima dos outros,
À procura de mundos novos,
Mais belos, mais perfeitos, mais felizes.

Criatura estranha, espírito irriquieto,
Cheio de ansiedade,
Assim como eu criavas mundos novos,
Lindos como os teus sonhos,
E vivias neles, vivias sonhando como eu.
Dorme, dorme, alma sonhadora,
Irmã gémea da minha!
Já que em vida não tinhas descanso,
Se existe a paz na sepultura:
A paz seja contigo!

(Poema de autor desconhecido encontrado no espólio de Fernando Pessoa)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Poema Velho 2

Passei a procurar o teu olhar por toda a noite.
Procurei-o por entre luzes que iluminavam
os sorrisos no céu.
Encontrei amarguras ao invés da tua ternura.
E as fendas assim se abriram sob os pés
de quem bailava ao som do luar.
E vendavais inundaram aqueles olhares insípidos.
Procurei então pelo teu!
E tornei-me assim o eterno sonhador
que em noite encantadas
às crianças se aproxima.
E a contar belas lendas de amor,
procura o teu olhar perdido,
em algum sorriso infantil.

01/01/2008.

Poema Velho 1

Mergulhei nas dobras da minha memória
apostando ouvir no mar o som de tuas gargalhadas
abafadas pelo meu abandono.
E foi percorrendo as imagens turvas de minha mente
que encontrei a tua primeira imagem, com teu sorriso tímido,
e tua última aparição, com olhar enfurecido pelas mágoas dos anos.
Corri, então. Fugi das lembranças de outrora.
Lembranças de tardes ensolaradas
substituídas por noites escuras e gélidas.
E percebi que o amor pode ser sepultado.
E que os amantes guardam amortalhadas
lembranças de um amor que nunca foi
dentro do peito doente insandencido.

02/01/2008.